quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

Importante ex-espião é intimado por morte de promotor na Argentina


Bol Notícias

Importante ex-espião é intimado por morte de promotor na Argentina

Buenos Aires, 5 Fev 2015 (AFP) - O ex-agente de inteligência argentino Antonio "Jaime" Stiuso, conhecido como o espião mais poderoso do país, foi intimado a prestar depoimento nesta quinta-feira como testemunha na investigação da morte do promotor Alberto Nisman.

A intimação foi feita em função das indicações de que Stiuso falou por telefone com Nisman por 12 minutos na noite de sábado, véspera do dia 18 de janeiro, quando o promotor foi achado morto com um bala na cabeça.

Quatro dias antes de aparecer morto, Nisman acusou a presidente Cristina Kichner, seu chanceler Héctor Timerman e assessores do governo do suposto acobertamento de ex-dirigentes iranianos no caso do atentado antissemita que em 1994 matou 85 pessoas.

Stiuso, cuja verdadeira idade, nome e assinatura são desconhecidos, ganhou fama de "intocável" graças a supostos documentos secretos com os quais conseguiu chantagear políticos e autoridades da Justiça do país.

Ele fez parte dos serviços secretos argentinos de 1972 a dezembro do ano passado, quando foi afastado por Kirchner.

Sua estreita relação com Nisman foi confirmada pela próprio promotor, advogados ligados ao caso do atentado contra o centro judaico AMIA e jornalistas investigativos que cobriram o ataque ocorrido quando Stiuso era chefe operativo da secretaria de Inteligência (SIDE).

No lugar de Stiuso, seu advogado Santiago Blanco Bermúdez foi quem compareceu ao gabinete da promotora Viviana Fein, que conduz o caso da morte de Nisman.

O advogado sustentou que seu cliente está "disposto a depor", mas sem revelar o seu rosto e com uma autorização prévia para revelar os segredos que, como um ex-membro dos serviços de inteligência, é obrigado a guardar. Ele disse desconhecer se seu cliente está na Argentina.

Pouco depois de saber das condições impostas por Stiuso, o novo chefe da secretaria de Inteligência, Oscar Parrilli, anunciou que por ordem da presidente Kirchner autoriza Stiuso a revelar os segredos guardados desde antes da ditadura (1976-1983).

"A presidente quer que revele tudo", disse Parrilli no Congresso, onde um projeto de lei é discutido para dissolver essa secretaria, alvo histórico de críticas do governo e da oposição que aumentaram após a morte de Nisman.



Kirchner sob fogo cruzado A deputada pela Coalizão Cívica (oposição social-democrata), Elisa Carrió, anunciou que denunciará criminalmente, nesta sexta-feira, a presidente e outros altos funcionários de seu governo pelo suposto acobertamento da morte de Nisman, confirmou seu gabinete nesta quinta-feira.

Segundo Carrió, revelações de mensagens de WhatsApp, fotos e intervenções permanentes de porta-vozes do governo sobre Nisman, "está mais perto da hipótese de assassinato por uma operação de inteligência do governo atual", disse.

A denúncia inclui a procuradora-geral, Alejandra Gils Carbó; o chefe de estado-maior do Exército, César Milani; e o secretário-geral da Presidência, Aníbal Fernández.

Gerardo Young, jornalista e escritor do livro "SIDE. La Argentina Secreta", indicou nesta quinta em declarações à televisão que Stiuso "tem 61 anos e 40 anos de serviço", e que investigou desde casos de narcotráfico até o atentado à AMIA e a bomba na embaixada de Israel em Buenos Aires, que deixou 29 mortos em 1992.

Segundo ele, "a SIDE atravessou as cloacas da sociedade argentina e os políticos a usaram, quando (os políticos) partem, dizem que não servem para nada".

"Querem tirar [da SIDE] as escutas telefônicas, que são o poder deles, mas os juízes ficam à sua mercê porque para investigar alguma coisa, têm que pedir a eles", disse Young, jornalista da rádio Mitre, pertencente ao grupo Clarín, crítico a Kircher.

Antes de morrer, Nisman apresentou quatro denúncias acusando a presidente, seu chanceler Néstor Timerman e assessores de seu governo pelo suposto acobertamento a ex-governantes iranianos pelo atentado antissemita de 1994.

O promotor deveria explicar sua denúncia, mas foi morto na véspera de se apresentar ao Congresso.

Neste sentido, Young disse que "sem Stiuso, Nisman não tinha nada. A denúncia contra Cristina (Kirchner) é uma denúncia de Stiuso e Nisman. Nisman dá forma legal ao que Stiuso diz".

Esta é a hipótese esboçada até agora por Kirchner.

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