Asfalto se divide: chapa quente X chapa branca
Josias de Souza
Dilma
Rousseff dividiu o asfalto em duas faixas. Numa, promete desfilar neste
domingo a rapaziada da ala chapa quente. Noutra, trafegou nesta
sexta-feira a pelegada do bloco chapa branca. É grande a diferença entre
os dois grupos. Um é a sociedade civil. Outro, a sociedade organizada.
Um é o público. Outro, a coisa pública. Um faz pressão popular. Outro,
lobby. Um é grito. Outro, resmungo. Um é explosão. Outro, flatulência.
Custeada pelo déficit público e pelo imposto sindical, a infantaria desta sexta contou com uma rica intendência —balões e faixas profissionais, bandeiras e camisetas vermelhas, carros de som, ônibus, um kit-manifestação e até vale-protesto. Lideradas por entidades como CUT, MST e UNE, três aparelhos capturados pelo Estado petista, essas manifestações serviram para sinalizar que Dilma ainda encontra algum apoio nas ruas. Mesmo que tenha que procurar um pouco.
Dentro de poucas horas, descerá ao meio-fio a turma do ambiente virtual das redes sociais. Nas suas últimas aparições, essa gente fez roncar as praças em junho de 2013 e crispou o cenho defronte dos estádios durante a Copa. Ninguém espera para este domingo nada tão grandioso. Mas Dilma está apreensiva. Dependendo da temperatura do asfalto, o derretimento do que lhe resta de imagem será mais rápido.
Há
dois anos, Dilma e Lula esgrimiram a tese segundo a qual a onda de
protestos era consequência dos êxitos do poder petista. Nessa versão, as
ruas exigiam mais do Estado porque os governos do PT produziram um
Brasil inteiramente novo. Atendida nas suas necessidades fundamentais, a
sociedade exigia mais.
Hoje, Dilma não tem o que dizer. Com o alarme da impopularidade a lhe soar nos ouvidos, tornou-se gestora de uma agenda de tópico único: consertar os erros do primeiro mandato. Dilma é movida pelo pior tipo de ilusão que pode acometer um presidente na sua situação. A ilusão de que preside. Resta-lhe rezar para que os protestos sejam mixurucas.
Custeada pelo déficit público e pelo imposto sindical, a infantaria desta sexta contou com uma rica intendência —balões e faixas profissionais, bandeiras e camisetas vermelhas, carros de som, ônibus, um kit-manifestação e até vale-protesto. Lideradas por entidades como CUT, MST e UNE, três aparelhos capturados pelo Estado petista, essas manifestações serviram para sinalizar que Dilma ainda encontra algum apoio nas ruas. Mesmo que tenha que procurar um pouco.
Dentro de poucas horas, descerá ao meio-fio a turma do ambiente virtual das redes sociais. Nas suas últimas aparições, essa gente fez roncar as praças em junho de 2013 e crispou o cenho defronte dos estádios durante a Copa. Ninguém espera para este domingo nada tão grandioso. Mas Dilma está apreensiva. Dependendo da temperatura do asfalto, o derretimento do que lhe resta de imagem será mais rápido.
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13.mar.2015
- Manifestantes interditaram uma faixa da avenida Paulista no sentido
Paraíso, durante manifestação em defesa da Petrobras. Além de ressaltar a
defesa à estatal e se colocar contra o impeachment da presidente Dilma,
o protesto, organizado pela CUT (Central Única de Trabalhadores),
também tem por objetivo pressionar o governo federal a reverter as
decisões que restringem os direitos trabalhistas, além de pressioná-lo a
realizar a reforma política Leia mais Eduardo Anizelli/Folhapress
Hoje, Dilma não tem o que dizer. Com o alarme da impopularidade a lhe soar nos ouvidos, tornou-se gestora de uma agenda de tópico único: consertar os erros do primeiro mandato. Dilma é movida pelo pior tipo de ilusão que pode acometer um presidente na sua situação. A ilusão de que preside. Resta-lhe rezar para que os protestos sejam mixurucas.
CUT e Cia. salvam a Petrobras de sujeito oculto
Josias de Souza
A
defesa da Petrobras é um dos principais motes das manifestações
promovidas nesta sexta-feira pela CUT e seus aliados sociais. Deseja-se
defender a estatal contra a ação deles. Fala-se muito “deles”… deles…
deles.” Todo mal da Petrobras é culpa “deles”. A estatal está sendo
destruída por “eles”. Falta aos protestos alguém que tome de assalto o
megafone e grite uma singela pergunta: “Quem são eles?”
Muitos
manifestantes talvez parem, travados. Quem são eles? Ora, eles são os
outros, esses seres impalpáveis, responsáveis por tudo. Eles podem ser
os corruptos, os corruptores, os neoliberais tucanos, o capital
financeiro internacional, o procurador Janot, a mídia golpista… Eles são
todos, menos a “esquerda” e o “governo democrático e popular do PT”.
Na Petrobras, o dinheiro saiu pelo ladrão porque os ladrões entraram nos cofres da estatal. Quem abriu a porta do galinheiro para os diretores indicados pelas raposas do PT, PMDB e PP foi Lula. Quem vigiava o poleiro era Dilma Rousseff, então presidente do Conselho de Administração da Petrobras.
Supremo paradoxo: em Salvador, José Sérgio Gabrielli, ex-presidente da Petrobras, estrelou a manifestação desta sexta-feira. Foi sob Gabrielli que a ação partidária na estatal potencializou-se. Em fevereiro de 2012, Gabrielli falou sobre o fenômeno no programa Roda Viva (aqui).
A certa altura, perguntaram-lhe por que os políticos cobiçavam diretorias da Petrobras. E Gabrielli: “Nós estamos numa democracia, meus senhores e minhas senhoras. Numa democracia em que os partidos são legítimos, em que os partidos representam o interesse do povo brasileiro. Ou vocês querem negar o direito dos partidos?”
Democracia partidária na Petrobras? “Vocês querem negar o direito dos partidos. A democracia exige partidos. Muito mais importante ter partidos do que não ter, do que ter uma ditadura.” Alguém lembrou a Gabrielli que ele presidia uma estatal de capital aberto, com ações na Bolsa. Outro entrevistador repetiu que havia gente indicada por Collor na companhia.
“O senhor Collor de Mello é senador eleito”, justificou-se Gabrielli. “Eu discordo da política dele, mas esse é outro problema. Ele é legitimamente eleito.” Ante a insistência dos entrevistadores —qual é o interesse dos partidos na Petrobras?—Gabrielli soou assim:
“Os partidos participam da gestão do Estado. Isso é parte da prática democrática. Isso é parte da democracia. Os partidos são legítimos. Nós podemos discordar. Eu discordo. Você sabe que eu sou um homem de partido. Eu discordo de alguns partidos, mas é legitima a existência dos partidos. Querer que não existam partidos é autoritarismo. Pode ser um déspota esclarecido, mas é um déspota.”
Nomeado sob Lula, Gabrielli só foi substituído por Dilma em 2012, segundo ano de sua primeira gestão. Saiu sob elogios pelos serviços prestados. Já nessa época, o petista Gabrielli não era um bom exemplo. Pior: era um extraordinário aviso. Não viu quem não quis. Agora responda rápido: quem são eles?
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13.mar.2015
- Manifestantes interditaram uma faixa da avenida Paulista no sentido
Paraíso, durante manifestação em defesa da Petrobras. Além de ressaltar a
defesa à estatal e se colocar contra o impeachment da presidente Dilma,
o protesto, organizado pela CUT (Central Única de Trabalhadores),
também tem por objetivo pressionar o governo federal a reverter as
decisões que restringem os direitos trabalhistas, além de pressioná-lo a
realizar a reforma política Leia mais Eduardo Anizelli/Folhapress
Na Petrobras, o dinheiro saiu pelo ladrão porque os ladrões entraram nos cofres da estatal. Quem abriu a porta do galinheiro para os diretores indicados pelas raposas do PT, PMDB e PP foi Lula. Quem vigiava o poleiro era Dilma Rousseff, então presidente do Conselho de Administração da Petrobras.
Supremo paradoxo: em Salvador, José Sérgio Gabrielli, ex-presidente da Petrobras, estrelou a manifestação desta sexta-feira. Foi sob Gabrielli que a ação partidária na estatal potencializou-se. Em fevereiro de 2012, Gabrielli falou sobre o fenômeno no programa Roda Viva (aqui).
A certa altura, perguntaram-lhe por que os políticos cobiçavam diretorias da Petrobras. E Gabrielli: “Nós estamos numa democracia, meus senhores e minhas senhoras. Numa democracia em que os partidos são legítimos, em que os partidos representam o interesse do povo brasileiro. Ou vocês querem negar o direito dos partidos?”
Democracia partidária na Petrobras? “Vocês querem negar o direito dos partidos. A democracia exige partidos. Muito mais importante ter partidos do que não ter, do que ter uma ditadura.” Alguém lembrou a Gabrielli que ele presidia uma estatal de capital aberto, com ações na Bolsa. Outro entrevistador repetiu que havia gente indicada por Collor na companhia.
“O senhor Collor de Mello é senador eleito”, justificou-se Gabrielli. “Eu discordo da política dele, mas esse é outro problema. Ele é legitimamente eleito.” Ante a insistência dos entrevistadores —qual é o interesse dos partidos na Petrobras?—Gabrielli soou assim:
“Os partidos participam da gestão do Estado. Isso é parte da prática democrática. Isso é parte da democracia. Os partidos são legítimos. Nós podemos discordar. Eu discordo. Você sabe que eu sou um homem de partido. Eu discordo de alguns partidos, mas é legitima a existência dos partidos. Querer que não existam partidos é autoritarismo. Pode ser um déspota esclarecido, mas é um déspota.”
Nomeado sob Lula, Gabrielli só foi substituído por Dilma em 2012, segundo ano de sua primeira gestão. Saiu sob elogios pelos serviços prestados. Já nessa época, o petista Gabrielli não era um bom exemplo. Pior: era um extraordinário aviso. Não viu quem não quis. Agora responda rápido: quem são eles?
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